Jolie escreve artigo sobre o Dia Mundial do Refugiado

Nesta segunda-feira, dia 20 de Junho de 2022, a cineasta estadunidense e Enviada Especial do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (UNHCR / ACNUR), Angelina Jolie, escreveu um artigo para a revista “TIME” e falou sobre o Dia Mundial do Refugiado. Confira a matéria traduzida na íntegra pelo Angelina Jolie Brasil.

Escrito por Angelina Jolie

No Dia Mundial do Refugiado, vamos nos comprometer a encontrar um caminho melhor

Todos os dias, mais de duas crianças são mortas e quatro ficam feridas no conflito na Ucrânia. Após mais de 100 dias de guerra, quase dois terços das crianças ucranianas foram deslocadas.

O conflito expõe a vulnerabilidade das crianças e a aumenta muito. Além das lesões físicas, há o trauma: o efeito do deslocamento, das noites escutando bombardeios, da separação da família, de ver amigos e parentes mortos. O trauma interrompe o sonho. Não apenas porque os pesadelos se tornam reais, mas aquele sonho que leva a vida adiante. Aquele pensamento sobre o que podemos criar. Sobre o que pode melhorar. Sobre quem podemos amar. O trauma destrói aquilo que a criança nasceu para ser.

Estamos mais conscientes da realidade e do impacto da guerra do que nunca. Mas, apesar de toda a nossa consciência, o risco para as crianças é cada vez maior. Existem mais conflitos acontecendo atualmente, do que em qualquer outro momento desde a Segunda Guerra Mundial. Uma em cada seis crianças em todo o mundo – 426 milhões – vive em uma zona de conflito.

O conflito na Ucrânia elevou o número de pessoas deslocadas em todo o mundo para mais de 100 milhões – mais do que nunca antes registrado. Mais de uma pessoa, em cada 100 ao redor de todo o mundo, encontram-se deslocadas, como refugiadas, solicitantes de refúgio ou, até mesmo, deslocadas dentro de seu próprio país – um número maior que a população do Reino Unido, da França ou da Alemanha. Destes 100 milhões, cerca de 40 milhões são crianças forçadas a deixar suas casas e suas comunidades. Para elas, o futuro parece sombrio.

Temos que reconhecer que nossos sistemas para prevenir conflitos, deslocamentos humanos em massa e defender os direitos humanos não estão funcionando. Três quartos dos refugiados vivem em situações prolongadas, onde o retorno ao país de origem é impossível porque os problemas de onde fugiram persistem.

Atualmente, a ajuda está tão limitada que o “Programa Mundial de Alimentos” da ONU fez um comunicado dizendo que, no Iêmen, “não temos escolha a não ser tirar a comida dos que estão famintos para alimentar aqueles que estão morrendo de fome e, em algumas semanas, corremos o risco de não conseguir alimentar nem os que estão morrendo de fome.”

No Afeganistão, as ONGs temem que a fome possa matar mais pessoas do que nos últimos 20 anos de guerra. O Conselho Nacional de Inteligência dos EUA alertou que os direitos dos refugiados estão entre “as normas com maior risco de enfraquecer globalmente na próxima década”, o que significa que, se não tomarmos uma atitude, haverá ainda menos concordância sobre como proteger os refugiados.

Não podemos esperar que as crises atuais passem, ou que surja uma liderança em nível internacional, antes de perguntarmos o que precisa mudar. A ajuda de emergência deve ser uma solução temporária, fornecida sem discriminação. Refugiados e pessoas deslocadas devem poder voltar para casa com segurança após os conflitos, em razão da diplomacia e dos acordos de paz. As normas de direitos humanos devem ser aplicadas de forma consistente. Em vez disso, vemos os refugiados serem discriminados com base na cor da pele, religião ou país de origem. Os países mais pobres do mundo abrigam milhões de refugiados por décadas sem um fim à vista, enquanto os mais ricos inventam maneiras cada vez mais elaboradas de fechar suas fronteiras e “expulsar” os requerentes de refúgio.

Precisamos reconhecer o que seria necessário para reduzir o número de refugiados globalmente. Precisamos entender o nível profundo de sofrimento humano das pessoas que vivem nessas situações. E precisamos reconhecer que ainda estamos vivendo de forma antiga, com comportamentos antigos. Não ajustamos nossas instituições para atender ao novo mundo ainda em formação.

Devido à forma como a ONU foi criada, ela está voltada para os interesses e para as vozes das nações poderosas, às custas das pessoas que mais sofrem com conflitos e perseguições, cujos direitos e vidas não são tratados da mesma forma. Por décadas, o foco principal tem sido o trabalho de organizações internacionais. Não houve atenção suficiente em ouvir grupos e voluntários locais e fortalecer seus esforços.

Não pretendo obter respostas, mas estou junto com todos aqueles que procuram um novo caminho. Grande parte da força que vejo neste momento, vem de pessoas individuais em países afetados por conflitos, como a Ucrânia – e de organizações locais, voluntários e dos próprios refugiados – que não estão esperando para serem ajudados, mas apoiando uns aos outros. É aí que deposito minha fé e esperança, até que tenhamos a coragem de reconstruir nossas instituições internacionais e cumprir a promessa de direitos iguais e proteção para todos.

Jolie é editora colaboradora da revista TIME e é também atriz vencedora do Oscar e ativista humanitária.
 

Fonte: TIME

Angelina Jolie Brasil

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